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09/07/2012

Bancos "apertam o cinto" e vão ficar mais seletivos

Para manter rentabilidades e clientes, instituições privadas já cortam custos com táxis e Correios e devem elevar tarifas, criar produtos e até compartilhar caixas
Diante do cenário de queda de juros desenhado pelos bancos públicos, as instituições financeiras privadas estão apertando os cintos e terão que se esforçar para melhorar sua eficiência e, assim, manter seus clientes e seus lucros recordes. Essa é a opinião de especialistas que acompanham o setor, que acreditam que, além de aumentar as tarifas para compensar a redução das taxas, será necessário promover mudanças dentro de casa para que a queda do spread bancário não derreta seus resultados.
“Com os juros caindo, a rentabilidade dos bancos vai ser afetada. Para evitar isso, eles vão ter que crescer no volume de crédito concedido. Mas os bancos privados temem a inadimplência alta, então podem optar por cortar custos ou repassar essas perdas ao cliente através do aumento das tarifas”, explica o analista Mario Pierry, do Deutsche Bank. Manuel Nogueira Lois, diretor da Spinelli Corretora, concorda. “A tendência é que os bancos tenham que emprestar mais para gerar lucro aos acionistas. No entanto, a renda real do brasileiro ainda é muito baixa e acaba sendo um limite para esse aumento,” diz, referindo-se às grandes instituições privadas de varejo, como Bradesco, Itau Unibanco, Santander e HSBC.
Mas apenas aumentar os custos para os clientes não será suficiente. O economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, acrescenta que os bancos vão ter que ajustar suas plataformas de tecnologia e marketing, além de cortar custos. “Eles têm margens, a grande questão é a taxa de retorno razoável em relação à media de outros setores”, diz.
Outra possibilidade é frear o ritmo de abertura de novas agências. Até 2011, os bancos vinham criando uma média de 200 novas agências por ano – o Bradesco chegou a abrir mil no período. “Muitas não estão maduras ou não têm receita no mesmo patamar de outras”, explica Mario Pierry, do Deutsche Bank.
O analista diz que uma prática comum no exterior e que não é aproveitada no Brasil é o compartilhamento de caixas eletrônicos, algo que pode ajudar as instituições financeiras a cortar custos. “Há várias ineficiências. Os bancos passaram dez anos tendo receita fácil e ninguém nunca focou em custo. Eles vão ter que melhorar sua eficiência”, ressalta.
Menos folga e mais critérios
A busca por eficiência passa ainda pela mudança de cultura na gestão dos bancos. “De forma geral, os bancos eram perdulários e gastam sem muito critério. Como ganhar dinheiro sempre foi muito fácil, não havia a cultura de trabalhar com um orçamento fixo e limitado. Com a mudança de cenário, o que se vê é um esforço para identificar todas as alternativas de redução de custos”, diz um consultor que atende grandes instituições do setor.
Na prática, isso significa que todos os contratos com prestadores de serviços estão sendo revistos. “Alguns já deixaram de usar o serviço rápido dos Correios e outros já limitaram até mesmo o uso de táxis pelos funcionários”.
Segundo o consultor, as instituições financeiras estão ainda implementando processos para agilizar a adoção de uma postura mais austera em relação ao orçamento. “Além de oferecer bônus mais interessantes para os executivos que gastam menos, alguns bancos estão dando claro sinais de que vão privilegiar profissionais mais novos nas promoções para cargos de chefia, em detrimento de funcionários mais experientes. Essa é uma maneira de acelerar a mudança de cultura na gestão da empresa”.
Na opinião dos analistas, uma outra forma de os bancos conseguirem sustentar suas margens é investindo em novos produtos. “Eles têm condições de alcançar nichos, como o investment banking (área de investimentos), private equity (investimento em participações em empresas), investimento tecnológico, middle market (empresas médias), fazer ofertas no mercado secundário, no mercado acionário”, afirma Eduardo Velho, da Prosper.
Já o analista-chefe da Concórdia, Leonardo Zanfelicio, questiona a dimensão da rentabilidade perdida. “As taxas caem, mas o custo de captação dos bancos também caiu”, lembra Zanfelicio. Para o analista, o efeito da diminuição dos juros já se refletirá nos lucros deste ano. No entanto, ele acredita que os bancos voltarão a registrar ganhos maiores já a partir de 2013. “O Itaú, olhando no médio prazo, acaba tendo um diferencial, pois ainda está em processo de incorporação do Unibanco, ainda tem sinergias das quais pode se beneficiar. Deve ser o mais rentável entre os três (na comparação com Bradesco e Santander)”, afirma..
Ainda assim, Zanfelicio acredita que as instituições bancárias podem buscar maiores ganhos investindo em serviços diferenciados, como previdência, seguros e capitalização. “Para manter bons resultados, os bancos vão ter que ganhar na eficiência”, acrescenta o analista. Eduardo Velho também acredita na criação de novos produtos e no aumento das tarifas nas margens. “O Bradesco deve entrar mais forte no crédito consignado, que é o foco de bancos médios como BMG”, aposta.
Os bancos, por sua vez, preferiram não falar sobre o assunto, ou negaram estarem sofrendo alguma consequência dos cortes da Selic e reduções anunciadas nos últimos meses pela Caixa e pelo Banco do Brasil. Procurados pelo iG, Santander, Bradesco e HSBC preferiram não falar sobre estratégias para manter clientes e rentabilidades em um novo cenário de queda de juros.
Já o economista-chefe do Itau Unibanco, Ilan Goldfajn, disse que a mudança dos juros não está sendo brusca a ponto de exigir medidas urgentes da instituição. “Os juros já estão caindo há muito tempo, e vão continuar caindo,” afirmou. Segundo ele, a demanda do sistema bancário continuará grande e sustentará a rentabilidade dos bancos. “O setor bancário é rentável e continuará rentável, pois vai continuar permitindo que as pessoas obtenham crédito para o que precisam. O financiamento à educação, por exemplo, que existe no resto do mundo, pode ser um segmento mais explorado pelas instituições,” diz.
Clientes
Se há alguém que sai ganhando com a queda-de-braço pela redução do spread bancário no Brasil são os clientes dos bancos. Afinal, eles podem aproveitar a portabilidade salarial para obter juros menores na compra de imóveis, por exemplo, ou ter melhores condições em empréstimos caso optem pela migração da dívida a outra instituição financeira. No entanto, é preciso abrir os olhos para identificar eventuais aumentos nas tarifas bancárias, um recurso ao qual os bancos podem recorrer para tentar manter suas margens.
O Procon-SP alerta os clientes para que fiquem sempre atentos com as taxas e leiam seus extratos bancários. Apenas no primeiro semestre deste ano, a fundação registrou 5.985 atendimentos referentes a cobranças indevidas realizadas por bancos.
“O Bradesco e Itaú podem ter migração de clientes para o Banco do Brasil, porque o BB atualmente tem um índice de inadimplência menor que os dois maiores bancos privados, o que abre espaço para que seja mais agressivo na questão de taxas”, afirma Leonardo Zanfelicio, da Concórdia. “Mas isso é passageiro”, completa o analista.
Já Eduardo Velho, da Prosper, ressalta que os bancos devem ficar mais seletivos na concessão de crédito, ao mesmo tempo em que tentam aumentar suas carteiras. “Eles não vão fazer empréstimos de todo jeito. Vão ter maior tecnologia na avaliação de risco, profissionais mais qualificados”, afirma. O bom cliente, aquele que paga suas dívidas em dia, pode se beneficiar desse cenário de juros mais baixos, acredita Zanfelicio.
Fonte:IG