Preço do metro quadrado no Rio de Janeiro ainda é o maior do Brasil
“Em termos de magnitude, há uma retração pouco expressiva, mas chama a atenção porque é a primeira vez em mais de três anos que há uma queda nos aluguéis. E isso revela a mudança na situação do país, com uma inflação maior e o poder aquisitivo da população mais comprometido”, avalia o coordenador do FipeZap, Eduardo Zylberstajn.
Mesmo o preço de venda do imóvel pronto, na capital fluminense, apresentou, no mês passado, a primeira desaceleração desde abril. A inflação em 12 meses saiu de 15,4% em julho para 15,3% em agosto. A avaliação de especialistas é que, após anos consecutivos de valorização, a bolha imobiliária no Rio chegou ao limite.
“Parece que estamos entrando em uma fase nova no mercado imobiliário. O aumento nos preços vem perdendo o fôlego, apesar de continuarem altos no Rio.”, ressalta Zylberstajn.
O cenário difere do período de julho de 2009, momento de maior valorização, a julho de 2013, quando a inflação do imóvel para venda no Rio, em 12 meses, chegou a avançar 161,72%. Em 2012, a capital fluminense desbancou Brasília, jogando a capital federal para a segunda posição no ranking de preço para venda, com o valor médio do metro quadrado em R$ 8.486 em julho deste ano.
Em São Paulo, a terceira das capitais a apresentar maior valorização do imóvel, com o metro quadrado médio negociado a R$ 7.451, a inflação, no mesmo período, foi de 110%.
Já o aluguel no Rio avançou 103,9% no acumulado dos quatro anos, frente a 50,3% em São Paulo. Para o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), Leonardo Schneider, a atração de eventos internacionais, como a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, fizeram com que o Rio “ficasse na moda”.
“A cidade ganhou mais investimentos públicos e privados em logística e mais visibilidade externa. Além disso, o Brasil fez um dever de casa razoável e não foi tão atingido pela crise de 2008 quantos os países lá fora, o que fez com que atraíssemos mais empresas. Tudo isso aqueceu o mercado imobiliário e o Rio, por tradicionalmente representar o país, foi o carro-chefe”, analisa.
Dados da Junta Comercial do Rio comprovam a maior capacidade de atração de investimento da capital fluminense em comparação com outras cidades brasileiras. De 2009 a 2013, o saldo entre abertura e fechamento de empresas na cidade foi positivo, com a entrada de 73 mil. O resultado foi 30% melhor do que o registrado nos quatro anos anteriores, quando foram abertas ao todo 52 mil empreendimentos .
Para o secretário estadual de Desenvolvimento do Rio de Janeiro, Julio Bueno, o novo ciclo econômico do estado, com a atração de empresas dos ramos de petróleo, cosméticos e automotivo, ajuda a explicar os impactos sobre o mercado imobiliário. “Atraímos mais estrangeiros para morar do que São Paulo, mesmo tendo um terço da economia deles”, afirma.
Mas não foi só a vinda de capital externo que dinamizou o mercado imobiliário carioca. A maior oferta de crédito, com a entrada de mais bancos no financiamento imobiliário, o programa Minha Casa, Minha Vida e o consequente subsídio para a aquisição da casa própria pelas classes C e D — além da política de segurança no Rio de Janeiro, com as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) — contribuíram para que o metro quadrado na capital batesse recordes, de acordo com Schneider.
No entanto, para o Secovi-Rio, a fase de picos de crescimento já passou. A avaliação é que a inflação dos imóveis já está se acomodando em uma variação mensal de 0,75% a 1,5%, embora a tendência é que os preços se mantenham elevados até 2016.
“Há ainda um baixo aproveitamento no Brasil de crédito imobiliário. Além disso, o Rio tem muitos investimentos que vão mexer com o mercado, como o metrô até a Barra e o Porto Maravilha. Com crédito na praça, as construtoras têm muito a pedalar”, aposta Schneider.
Para o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Samy Dana, o cenário não é de otimismo. Segundo ele, “há uma bolha instalada, que vai estourar, seja de forma bruta ou lenta”.
Em sua avaliação,“os preços estão ridículos de altos e o mercado vem dando sinais de desaquecimento. As construtoras estão aumentando os descontos para fixar os clientes e, com a oferta em alta, o preço do aluguel acaba caindo. O mercado está se ajustando”.
O presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-Rio), Manoel Maia, afirma, contudo, que não há clima para pânico. “ Podemos ter uma desaceleração, mas não quer dizer que o mercado vá retrair”, aposta.
Fonte: Brasil Economico/IG