A Caixa Econômica Federal planeja vender de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões
em ativos atrelados a hipotecas neste ano para investidores
institucionais, como parte de um plano para modernizar o setor e
garantir a continuidade do crescimento, disse o presidente do banco
nesta quarta-feira. A transação seria um marco no amadurecimento do
mercado ainda nascente de hipotecas no Brasil, permitindo que a estatal
continue a emprestar a um ritmo anual de 50% ou mais.
Uma venda de ativos também poderia dar a investidores estrangeiros um
novo veículo para participar da expansão do mercado imobiliário
brasileiro, especialmente nos setores de renda mais baixa, em que o
avanço é maior. A Caixa controla cerca de três quartos do mercado
doméstico de hipotecas. A Caixa ainda está negociando os termos do
negócio com o Banco Central e o Ministério da Fazenda, mas planeja
oferecer os ativos no segundo semestre, disse o presidente da entidade,
Jorge Fontes Hereda.
"Há uma discussão no mercado: como essa expansão no Brasil vai
continuar? Ela tem um futuro? O funding existe? E é uma pergunta
válida", afirmou. "Uma das soluções que nós vemos é para essa
securitização acontecer, e nós estamos caminhando nessa direção."
A Caixa é o principal veículo do plano da presidente Dilma Rousseff para
construir ao menos 2 milhões de moradias até 2014. Os bancos privados
ainda têm cautela sobre crédito de longo prazo no Brasil, em parte por
causa do histórico de hiperinflação e crises financeiras. Isso torna a
Caixa praticamente a única grande fonte de hipotecas para os mais de 20
milhões de brasileiros que ingressaram na classe média na última década.
As hipotecas no Brasil equivaliam a apenas 3,5% do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2010, de acordo com o BC. Isso se compara a cerca de 20% no
Chile, o mais desenvolvido mercado de hipotecas da América Latina, e a
cerca de 100% nos Estados Unidos.
Hereda disse que a Caixa já vendeu cerca de R$ 300 milhões em
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) neste ano para
investidores no varejo. A venda de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões em CRIs
ainda em 2011 seria direcionada a investidores institucionais como
fundos de pensão e, possivelmente, estrangeiros, segundo Hereda.
Construtoras
A Caixa também está negociando com as autoridades
uma estrutura legal para vender bônus com cobertura, ativo amplamente
usado na Europa em que os bancos emitem bônus apoiados por pagamentos
futuros de empréstimos. Esses empréstimos continuam no balanço dos
emissores e, portanto, são considerados menos arriscados que os bônus
atrelados a hipotecas.
Hereda disse que a Caixa está discutindo maneiras de tornar os ativos
mais atraentes, pois a taxa básica de juros de 12,25% tende a atrair os
investidores para ativos menos arriscados, que ainda oferecem
rendimentos altos, como títulos do Tesouro. Um exemplo similar no
mercado: um CRI de taxa flutuante emitido pela Cyrela pagaria cerca de
13,5% nas taxas atuais de mercado - apenas 1,25 ponto percentual acima
da Selic.
Hereda disse que uma possibilidade discutida com o governo seria dar uma
dedução de imposto para quem comprar CRIs. A criação de um mercado
secundário maior para os ativos também ajudaria, disse ele. O
crescimento continuado das hipotecas no Brasil será uma boa notícia para
construtoras como a Rossi Residencial e a Gafisa.
Hereda amenizou preocupações sobre uma bolha imobiliária ou outras
barreiras à continuidade da expansão. A agência de classificação de
risco Moody's elevou a nota do Brasil na segunda-feira, dizendo que o
País está menos vulnerável a riscos de crédito por causa de seu sólido
sistema bancário. "Para os próximos quatro a cinco anos, dentro dos
planos que o governo estabeleceu, nós teremos recursos para isso", disse
Hereda. "Nós vamos continuar em expansão, isso é certo. A única questão
é quanto."
Fonte:Reuters/terra